quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Ligações Químicas


Gostaria de começar minha fala sobre o tema proposta “Ligações Químicas” com uns questionamentos.

Começando com i) é realmente necessário ensinar ligações químicas? ii) o problema será a forma com que ela é ensinada? Se a resposta for sim para ambos os questionamentos anteriores, uma certeza eu tenho – Ele é estudado no momento errado – Assim, faz-se necessário uma reformulação da estrutura do Ensino de Química no que se refere à esse tema.


Para refletir sobre o primeiro tópico é necessário cidadão não químico.

Apesar da dificuldade de não se ver como químico após anos de estudo, é importante fazer esse esforço e se questionar. Se o objetivo da educação básica não é formar químicos, mas cidadãos capazes de compreender a linguagem da ciência, o que é relevante para os estudantes? Na forma com que compreendo hoje a Educação em Ciências, somos professores de linguagem científica. E a linguagem que o estudante deve compreender é aquela que possa ser utilizada no mundo que ele vive e que possibilite a articulação dos saberes. Escolares, Cotidianos, Científicos, em sua vida de modo que seja um cidadão crítico com relação ao mundo que o cerca.

E é nesse momento que devemos nos questionar sobre esse do saber escolar, cotidiano e científico. Existe uma dicotomia no ensino, afinal o professor de química precisou de todos os conhecimentos para ser professor, formando-se em uma graduação que foi difícil. Por outro lado não necessariamente o estudante irá querer ser professor, e nem químico, mas acreditamos que o conhecimento construído em sala de aula será útil para sua compreensão crítica do mundo. Nesse ponto o professor de química deve achar um ponto de equilíbrio no qual estarão os conhecimento necessários à essa formação crítica. E esse ponto de equilíbrio significa afastar-se do que foi importante para ele, em prol do que será importante pra o estudante. Acredito que a resposta a essa indagação será pessoal, e será uma mescla de crenças e vivências pedagógicas na qual cada professor encontrará o seu ponto de equilíbrio.

Umas perguntas para aumentar a discussão sobre o tópico de ligações químicas são essas i) O conhecimento de ligação química visto na universidade é o mesmo visto no colégio? E como faremos essa ligação com o cotidiano? O que você entende por transposição didática? – Complicado de ter uma resposta, mas mesmo assim é válido que haja a pergunta.

O tópico de ligações químicas está presente na primeira ano do Ensino Médio. O estudante não conhece nenhuma reação química (como reação química), mas precisa compreender a ligação e classificá-la como iônica, covalente, metálica. Será que esses estudantes conseguem compreender o conceito de Ligação Química? Agora, indo além, será que os professores conseguem? – É necessário fazer uma reflexão sobre o que é ligação química, como ela foi inserida no contexto científico e como ela está sendo utilizada.

Se a opção for trabalhar o tema “ligações químicas”, acredito que seja interessante estudá-lo em um momento posterior, e a utilização da História da Ciência torna-se válida por mostrar o caráter da ciência como uma construção humana, feita por modelos, e que está em constante modificação desses modelos.

Observado o livro didático

Tomando alguns livros que se propõem como inovadores, é possível perceber que a modificação feita no tema “Ligações Químicas” de um livro tradicional para esses é a questão da exemplificação estar anterior ao conteúdo. Claramente sendo mais coerente com o que se acredita hoje na Educação em Ciências do que os livros mais antigos, porém ainda consigo voltar ao questionamento inicial. Será necessário estudar ligações químicas? E se for necessário, qual o melhor momento? E como fazer?

Nesse livro, percebo que eles nos mostram os motivos de estudar ligação química, mas pra nós, químicos, é muito claro. Será que é claro para o estudante?

Por isso defendo uma abordagem desse tópico um pouco depois, após ele conhecer, refletir, se questionar, melhor o mundo macro. É importante lembrar que como professores de química somos articuladores da linguagem científica, mas isso deve fazer sentido para o estudante. Ele deve ser levado ao questionamento. E a partir daí, podemos construir modelos que sejam compreendidos, e não apenas decorados. Modelos esses que em geral, não possuem significação, mas apenas algo que nos diz “Se a diferença de eletronegatividade for maior do que 1,7 é iônica, se for menor é covalente”. Nesse ponto, ensinar ligações químicas, deve ser fazer o estudante questionar Por que os metais conduzem eletricidade? Por que os sais apresentam alto ponto de fusão? por que há tanta diferença entre o grafite e o diamante?

Nesse ponto de questionamento, o estudante irá querer compreender a ligação química e posteriormente as interações intermoleculares, para compreender a linguagem que a ciência utiliza para explicar fenômenos.


Que estratégias utilizar?

Essa opção estratégica é outro ponto pessoal, cada professor irá usar aquela me irá se adequar ao seu conhecimento e à suas crenças. Dentre as estratégias que podem ser utilizadas nas mais diversas práticas que pensam ensino/aprendizagem, temos as práticas que envolvem experimentação. Seriam elas adequadas para esse tema? Acredito que não, o conceito de ligação química foi introduzido, da maneira que “conhecemos hoje”, de forma teórica. (Reparem que muitos pesquisadores dizem que essas teorias não são palpáveis para o ensino básico). Partindo para um segundo tipo de abordagem metodológica, tem-se a utilização de práticas que envolvem a relação CTS. Contexto de Ciência, Tecnologia, Sociedade ela pode ser utilizada para a compreensão crítica de mundo. Se bem trabalhada podem fazer com que o estudante reflita e questione o mundo em que vive e as relações CTS. Essa opção seria adequada para uma abordagem do tema ligação química após um trabalho com reações químicas, transplantando o tópico talvez para o segundo ano do ensino médio. Se a opção é manter no 1º ano, acredito que uma boa opção seja a História da Ciência, abordando como funciona a dinâmica do empreendimento científico que eles estão estudando. Mas sempre lembrando que essa é uma opção metodológica e pessoal.

Percebam no meu discurso inicial que defendo uma mudança na ordem dos fatores. Inicialmente o estudante deve compreender algumas reações químicas, e como modelo explicativo utilizamos os conceitos de ligações químicas. Nesse ponto é feita uma mudança que irá adequar a história da ciência ao conhecimento estudado em sala, lembrando-se de que o modelo de ligação química surgiu há menos de um século. O conceito de átomo foi aceito como “verdade” (muitos aspas), há aproximadamente um século. Mas na Educação em Ciências fazemos o inverso. Queremos que os estudantes construam conceitos que demoraram séculos para serem compreendidos em uma aula. Assim eles decoram, não entendem o que é a Ligação Química.

Agora, respondam-me vocês! É necessário trabalhar na Educação Científica, os conceitos de Ligação Química? Se é necessário e importante, então temos que (re)inventar constantemente nossa prática. É isso que faz com que a profissão professor exija, como requisito básico, a criatividade!